Capela de S. Cláudio

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A igreja de São Cláudio de Nogueira é um dos templos que melhor reflecte o que foi a construção religiosa dos séculos XI a XIII, nos meios rurais do Norte de Portugal. Em pouco mais de cem anos, possuímos indicações relativas a quatro campanhas de obras, informação verdadeiramente notável se tivermos em conta a relativa modéstia e sobriedade do conjunto que chegou até nós.O primeiro indicador cronológico (1082) remete para uma fundação da época condal, momento de afirmação do condado portucalense e que coincidiu com um amplo movimento de renovação da paisagem arquitectónica dos territórios entre o Mondego e o Minho, sob o impulso dos novos bispos de Braga e de Coimbra (REAL, 1982, p.13). Conhecemos pouco desta fase, à excepção de parte dos muros da capela-mor, reaproveitados na campanha plenamente românica.Possivelmente, por o templo ter entrado em ruína, teve início, na década de 40 do século XII, a construção de uma nova capela-mor (REAL, 1982, p.53). Através de uma inscrição colocada no muro exterior nascente da ábside, temos uma datação exacta para esta campanha, circunstância que se alarga aos elementos decorativos do apertado arco triunfal. Esta é a parte mais importante de todo o conjunto edificado, pela sua original decoração e pelas vias de influência artística que aqui confluem.Os capitéis do arco triunfal, de forma cúbica, revelam-nos uma decoração arcaica e relativamente tosca. O do lado Sul é vegetalista, de "palmetas e vides entrelaçadas". O do lado Norte é historiado e alusivo a um dos temas mais esculpidos de todo o Românico - o castigo -, simbolizado pela presença de dois quadrúpedes demoníacos, afrontados, que seguram um homem nu pelos pés (RODRIGUES, 1995, pp.227 e 306). O trabalho da arquivolta exterior reforça o estatuto grosseiro do programa decorativo desta campanha: a arquivolta, propriamente dita, é integralmente ocupada por motivos lanceolados, ou corações invertidos, dispostos radialmente numa banda contínua; sobrepõe-se-lhe um friso de "meandros", cujo ritmo e tratamento plástico revela a existência de muitas "hesitações", próprias de um artista inábil (ALMEIDA, 1986, p.60). Também a fresta nascente da capela-mor confirma a modéstia desta empreitada decorativa, revelando a existência de "beak-heads" (cabeças de animais que mordem o toro da arquivolta), um dos primeiros casos entre nós.Obra de um Românico ainda incipiente (e com certeza parco em recursos), a campanha da década de 40 da igreja de São Cláudio integra-se nas primeiras experiências decorativas que vieram a dar origem ao "estilo figurativo de raiz beneditina" (REAL, 1982, p.53). A par das primeiras realizações escultóricas de Travanca, Tibães e Braga, Nogueira constitui um importante capítulo na génese do nosso Românico de toda a segunda metade do século XII.Não conhecemos suficientemente bem a marcha das obras da igreja, mas tudo aponta para que a construção se tenha arrastado por várias décadas. De 1183 é uma inscrição, mas pouco ou nada sabemos acerca dela. Mais importante é uma outra lápide, datada de 1201 e alusiva à sagração da igreja, localizada no lado Sul do portal principal. Aqui vamos encontrar um outro Românico, igualmente modesto (como se comprova pela entrada sóbria, elaborada sem o recurso a colunas), mas claramente vinculado a uma ordem estilística emanada a partir do grande centro bracarense. O tímpano é a peça mais emblemática desta derradeira campanha: ao centro, uma cruz vazada é sustentada por duas figuras sem corporização efectiva, de contornos apenas gravados na pedra.Concluída na viragem para o século XIII, a igreja apresenta um produto planimétrico comum à maioria do nosso Românico: capela-mor quadrangular e nave única de dimensões modestas. Templo de um pequeno mosteiro rural, os séculos seguintes determinaram a decadência da casa monacal e a consequente ruína da instituição. Extinta a comunidade em 1531, a igreja passou a paroquial em 1835 e foi drasticamente restaurada em 1949.